Olhar Fotográfico: um dos elementos mais importantes da fotografia

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O olhar fotográfico é o que diferencia uma imagem comum de uma obra de arte. Mais do que apenas apontar a câmera e clicar, ele envolve uma percepção apurada do mundo ao redor e a capacidade de transformar momentos cotidianos em algo significativo. Ter um “bom olho” para a fotografia significa ver além do óbvio, capturando detalhes, emoções e histórias que muitas vezes passam despercebidos pelos outros.

É através desse olhar que o fotógrafo revela sua visão única, mostrando não só o que vê, mas como sente o mundo ao seu redor. Desenvolver o olhar fotográfico é um processo que vai além da técnica; é uma jornada de autoexpressão, onde cada clique é um reflexo da sensibilidade, criatividade e da experiência de vida do fotógrafo.

O QUE VOCÊ VAI APRENDER NESTE ARTIGO:

Desde a antiguidade, o ser humano tem buscado reproduzir a realidade por meio de imagens para compartilhar com outros. Durante séculos, coube aos artistas a tarefa de selecionar temas e registrar cenas utilizando carvão, tinta e outros materiais disponíveis. No entanto, em 1826, a fotografia emergiu como uma nova forma de expressão, proporcionando um meio mais instantâneo e acessível de capturar momentos e compartilhar experiências visuais. Neste artigo, exploraremos a evolução da fotografia e a importância de olhar além da superfície, reconhecendo a beleza que muitas vezes passa despercebida.

Os pintores românticos, conhecidos por suas obras altamente detalhadas, reagiram de forma dramática ao surgimento da fotografia, proclamando: “A partir de hoje, a pintura está morta!”. No início, o processo fotográfico era complexo e demorado, mas sua evolução transformou a captura de imagens em algo instantâneo, permitindo que o mundo fosse registrado em apenas um piscar de olhos.

A pintura em miniatura foi rapidamente substituída pelos daguerreótipos, que ficavam prontos em 15 minutos e custavam apenas 12 centavos. Os pintores, alarmados com essa nova tecnologia, expressaram seu descontentamento: “Odiamos fotografia”.

Enquanto alguns artistas viam a fotografia como uma ferramenta auxiliar para estudar retratos e poses, outros rejeitavam a ideia de que a fotografia poderia ser considerada arte. No entanto, três gerações após a invenção da fotografia, muitos pintores abandonaram o realismo e se voltaram para a abstração.

Gradualmente, fotógrafos começaram a reivindicar a fotografia como uma forma de arte, defendendo que era mais do que apenas “tirar” retratos ou servir de referência para pinturas. Embora criassem imagens realistas, muitos fotógrafos passaram a buscar uma estética que imitasse a pintura.

Para explorar essa nova forma de arte, fotógrafos começaram a produzir imagens desfocadas, retocar negativos, adicionar tinta às fotografias impressas, sobrepor negativos e manipular suas imagens de diversas maneiras. Assim nasceu uma nova forma de expressão artística, que estabeleceu a fotografia como um meio legítimo e criativo.

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Fotografia como Arte

A fotografia como arte vai além do simples registro fotográfico e da fotografia comercial. Em um mundo saturado de imagens, alguns fotógrafos conseguem capturar o cotidiano da sociedade, sua visão de mundo ou as maravilhas da natureza de maneira única e impactante.

Esses fotógrafos são considerados cronistas visuais, que, através de suas lentes, revelam o mundo por meio das cenas que registram. Com emoções como rebeldia, raiva, amor, discrição, sensibilidade, brutalidade ou ternura, eles transformam suas experiências de vida e percepções em histórias visuais que falam ao espectador.

É importante destacar que o trabalho de um fotógrafo artista não pode ser reduzido a simplesmente “tirar fotos”, pois essa expressão é pejorativa e incorreta. Um bom fotógrafo “produz uma fotografia”, onde cada clique carrega sua bagagem de experiências e uma visão de mundo refinada.

As pessoas que buscam, seja com pincel ou câmera, criar imagens impactantes, autênticas e atraentes, geralmente não se contentam com o óbvio. Elas desejam ultrapassar as barreiras do convencional. Para alcançar isso, é crucial estar atento aos momentos fugidios, detalhes sutis, verdades passageiras e nuances imperceptíveis do cotidiano. Assim, as fotografias resultantes tornam-se inesquecíveis.

Esse processo exige o desenvolvimento de um olhar diferenciado, conhecido como o Olhar Fotográfico. Isso implica estar aberto a novas perspectivas e, sobretudo, ter ideias inovadoras e a disposição para criar imagens únicas.

Expressar-se através da fotografia deve ser uma experiência pessoal, e o compromisso com a autoexpressão é a meta primordial.

O que é Olhar Fotográfico?

O Olhar Fotográfico é a capacidade de expressar, através de imagens, como você vê e sente o mundo ao seu redor. É mais do que apenas clicar um botão; é uma forma de perceber e interpretar a realidade de maneira única e artística.

Um fotógrafo com um “bom olho” possui uma visão criativa que permite capturar detalhes, emoções e narrativas que muitas vezes passam despercebidas. Esse olhar apurado transforma cenas cotidianas em obras de arte visuais, revelando a beleza e a profundidade que existem em cada momento.

Cultivar o Olhar Fotográfico envolve:

  1. Atenção aos Detalhes: Observar nuances sutis que contam histórias.
  2. Criatividade: Encontrar ângulos e composições que surpreendem e cativam.
  3. Intuição: Sentir a atmosfera do momento e saber quando clicar.

Desenvolver esse olhar é fundamental para qualquer fotógrafo que deseje criar imagens impactantes e memoráveis. Ao aprimorar sua capacidade de ver e sentir, você se torna capaz de produzir fotografias que ressoam com os espectadores em um nível emocional mais profundo.

A Formação do Olhar Fotográfico

A formação do Olhar Fotográfico começa a partir do momento em que começamos a enxergar o mundo, passando por processos imperceptíveis de observação e interpretação. Ao longo da vida, o ambiente ao nosso redor, a educação recebida, as interações sociais e a exposição à arte moldam nossa maneira de ver e entender o que está à nossa volta.

Este é um processo de aprendizado subjetivo, influenciado pelas experiências pessoais e pelo autoconhecimento. Não pode ser ensinado de maneira direta, mas pode ser desenvolvido através de práticas e da constante busca por referências e inspiração.

Como Desenvolver o Olhar Fotográfico:

  1. Atenção ao Mundo ao Redor: O fotógrafo precisa estar atento ao que vê e sente, observando os detalhes que outros podem ignorar.
  2. Imersão em Arte: A apreciação de obras de arte, a visita a museus, galerias e o estudo do trabalho de outros fotógrafos são fundamentais para ampliar o repertório visual.
  3. Autoconhecimento: Entender suas emoções, gostos e valores é essencial para moldar um olhar autêntico.
  4. Exposição à Diversidade: O contato com diferentes culturas, estilos de vida e formas de arte ajuda a expandir o olhar e a criar novas perspectivas.
  5. Prática Constante: Fotografar e revisitar suas próprias imagens regularmente é essencial para refinar sua técnica e visão criativa.

A repetição dessas experiências e o interesse genuíno em explorar o novo são fundamentais para expandir o horizonte visual. É preciso deixar de lado preconceitos e estar disposto a ver, ouvir e aprender coisas diferentes. Assim, novas portas se abrirão e o fotógrafo desenvolverá um olhar único e poderoso.

O Olhar Adulto: Um Texto para Inspirar e Refletir

Por Rubem Alves

Lá vão pelo caminho a mãe e a criança, que vai sendo arrastada pelo braço – segurar pelo braço é mais eficiente que segurar pela mão. Vão os dois pelo mesmo caminho, mas não vão pelo mesmo caminho. Bleke dizia que a árvore que o tolo vê não é a mesma árvore que o sábio vê. Pois eu digo que o caminho porque anda a mãe não é o mesmo caminho porque anda a criança.

Os olhos da criança vão como borboletas, pulando de coisa em coisa, para cima, para baixo, para os lados, é uma casca de cigarra num tronco de árvore, quer parar para pegar, a mãe lhe dá um puxão, a criança continua, logo adiante vê o curiosíssimo espetáculo de dois cachorros num estranho brinquedo, um cavalgando o outro, quer que a mãe também veja, com certeza ela vai achar divertido, mas ela, ao invés de rir, fica brava e dá um puxão mais forte, aí a criança vê uma mosca azul flutuando inexplicavelmente pelo ar, que coisa mais estranha, que cor mais bonita, tenta pegar a mosca, mas ela foge, seus olhos batem então numa amêndoa no chão e a criança vira jogador de futebol, vai chutando a amêndoa, depois é uma vagem seca de flamboyant pedindo para ser chacoalhada, assim vai a criança, à procura dos que moram em todos os caminhos, que divertido é andar, pena que a mãe não saiba andar por não ter os olhos que saibam brincar, ela tem muita pressa, é preciso chegar, há coisas urgentes a fazer, seu pensamento está nas obrigações de dona de casa, por isso vai dando safanões nervosos na criança, se ela conseguisse ver e brincar com os brinquedos que moram no caminho, ela não precisaria fazer análise.

A mãe caminha com passos resolutos, adultos, de quem sabe o que quer, olhando para a frente e para o chão. Olhando para o chão ela procura as pedras no meio do caminho, não por amor ao Drummond, mas para não dar topadas, e procura também as poças d’agua, não porque tenha se comovido com o lindo desenho do Escher de nome Poça d´água, uma poça de água suja na qual se refletem o céu azul e os ramos verdes dos pinheiros, ela procura as poças para não sujar o sapato. A pedra do Drummond e a poça de água suja do Escher os adultos não vêem, só as crianças e os artistas.

A mãe não nasceu assim. Pequenina, seus olhos eram iguais aos do filho que ela arrasta agora. Eram olhos vagabundos, brincalhões, que olhavam as coisas para brincar com elas. As coisas vistas são gostosas, para ser brincadas. E é por isso que os nenezinhos têm esse estranho costume de botar na boca tudo o que vêem, dizendo que tudo é gostoso, tudo é para ser comido, tudo é para ser colocado dentro do corpo. O que os olhos desejam, realmente, é comer o que vêem. Assim dizia Neruda, que confessava ser capaz de comer as montanhas e beber os mares. Os olhos nascem brincalhões e vagabundos – vêem pelo puro prazer de ver, coisas que, vez por outra, aparece ainda nos adultos no prazer de ver figuras. Mas aí a mãe foi sendo educada, numa caminhada igual a essa, sua mãe também a arrastava pelo braço, e quando ela tropeçava numa pedra ou pisava numa poça de água, porque seus olhos estavam vagabundeando por moscas azuis e cachorros sem-vergonha, sua mãe lhe dava um safanão e dizia: “Olha pra frente menina!”.

“Olha pra frente!” Assim são os olhos adultos.

Coitados dos adultos! Arrancaram os olhos vagabundos e brincalhões de crianças e os substituíram por olhos ferramentas de trabalho. Os olhos tornam-se escravos do dever. Os olhos solicitam: “Brinquem comigo! É tão divertido! Se vocês brincarem comigo, eu ficarei feliz, e vocês ficarão felizes.

Conclusão

O olhar fotográfico é mais do que dominar a técnica de uma câmera. Ele é a essência de como vemos e interpretamos o mundo. Através do desenvolvimento desse olhar, o fotógrafo pode criar imagens que não apenas registram momentos, mas os transformam em narrativas visuais, cheias de significado e emoção.

Ao cultivar uma percepção mais sensível e criativa, o fotógrafo desenvolve a capacidade de ver o extraordinário no comum, capturando a beleza dos detalhes e as nuances da vida. No final, o olhar fotográfico não se trata apenas de fotografar, mas de enxergar o mundo de uma maneira única, expressando sua visão pessoal em cada imagem.

4 comentários em “Olhar Fotográfico: um dos elementos mais importantes da fotografia”

  1. Treino tirando fotos de objetos triviais buscando uma foto de qualidade, isto é valido como treino?

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    • Com certeza, Ayrton! Treinar tirando fotos de objetos triviais é uma excelente forma de aprimorar suas habilidades fotográficas. Essa prática permite que você se concentre na composição, iluminação, foco e outros aspectos técnicos da fotografia, sem a pressão de estar em um ambiente ou situação específica.

      Fotografar objetos triviais também é uma ótima maneira de desenvolver seu olhar fotográfico e criatividade. Você pode experimentar diferentes ângulos, perspectivas e estilos para capturar o mesmo objeto e descobrir como pequenas mudanças podem afetar a imagem final.

      Além disso, essa prática é uma oportunidade para aprender a lidar com a luz ambiente e descobrir como controlar as configurações da câmera para obter a melhor qualidade de imagem possível.

      Então, sim, é totalmente válido e recomendado treinar tirando fotos de objetos triviais. Através desse exercício, você estará construindo uma base sólida para suas habilidades fotográficas, o que certamente refletirá em melhorias significativas em suas fotografias futuras. Continue praticando e explorando, e com o tempo, você verá o crescimento em sua fotografia.

      Boas fotos e sucesso em seu treinamento fotográfico! 📸✨

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